“Mamãe é chata!”
Devo ouvir essa frase, no mínimo, umas 52 vezes por dia. Minha resposta é a clássica resposta de mãe: “Sou chata mesmo”. Acontece que ontem eu fui parar para pensar sobre o ser/estar chata e a realidade é que: eu estou mais chata mesmo.
Não é exatamente um desejo meu. É que eu não aguento mais mesmo. Há quatro meses a Covid-19 nos forçou a manter esse convívio extremamente intenso e, tenho que confessar, isso tem me levado pouco a pouco a uma estafa mental que eu não sei mais lidar. Talvez nunca tenha sabido, mas agora ficou bem mais escancarado.
Eu sempre quis ter filho, não é essa a questão, mas a realidade é que eu nunca quis ter filho desse jeito. Acho que ninguém nunca quis, ter filho no meio de uma pandemia. Mas sim, de fato aconteceu e agora? Agora é isso, a gente vai ter que aprender todos os dias a lidar com essa nova situação e tentar, na marra, a não surtar. Mas eu não sei se consigo mais. E pra ser sincera, o não lidar é o que eu mais desejo, porque tudo o que eu penso é que preciso de no mínimo uma semana sem filhos para conseguir me recuperar dessa loucura toda.
Me lembro que em 31 de março, quando oficialmente fomos informados que as escolas seriam fechadas por tempo indeterminado – depois de já estarmos há duas semanas 100% em casa -, de eu ter pensado que com uma boa organização de rotina, conseguiríamos dar conta. Mas ter perdido a única rede de apoio que nos amparava desde que mudamos para o Canadá, foi, por falta de palavra melhor, desesperador. Aos poucos os dias foram ficando mais longos, mais barulhentos, mais desorganizados. Todos aqui de casa foram ficando mais agitados, mais cansados, mais irritados.
O mais maluco disso tudo é que a vida para de um lado, mas tem que seguir do outro. E eu ainda tenho a sorte de estar trabalhando em um lugar com pessoas extremamente compreensíveis. Com uma chefe que entende o que é ter os filhos literalmente pulando atrás de você enquanto rola uma reunião importante de trabalho. E pra piorar um pouco o cenário, passo a maior parte do dia tendo que lidar com tudo isso sozinha, porque o Bernardo nunca parou de trabalhar fora de casa.
Mas a questão é, nada disso é saudável. Ontem mesmo estava falando com o Bernardo, eu não me sinto bem nesse papel de mãe insuportável que eu virei. Dessa mãe que durante um dia passa por todas as fases: é a mãe que escuta e conversa, é a mãe que tenta compreender e acolher a dor, é a mãe que grita e ameaça e é a mãe que se desespera e chora. Eu ando exausta de viver o meu próprio desequilíbrio.
Eu não sei o que em um médio prazo isso vai fazer comigo e, pior, tenho um medo maior que é o que isso vai fazer com a cabeça dos meus filhos. Nós que pensamos que seríamos a geração que estava criando filhos que não precisariam resolver sua infância na terapia, agora corremos o risco de estarmos criando filhos que terão que lidar com muito mais questões do que a gente consegue dimensionar hoje.
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